Na primeira semana de agosto foi realizado em Botucatu o III Encontro Internacionald e Agroecologia.
O
professor da Angell Calle Collado, da Universidade de Córdoba, que
falou sobre “Democracia Radical e Movimentos Sociais na Construção da
Transição Agroecológica”. De acordo com ele, os movimentos sociais em
todo o mundo demonstram que a sociedade quer um novo modo de vida. “São
movimentos em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo, todos estão
descontentes com a forma que vivemos atualmente”.
O economista João Pedro Stédile, representante do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) falou sobre o ‘Campesinato
Agroecológico e os Desafios e Possibilidades da Via Campesina’. Segundo
ele, o agronegócio não produz alimentos e sim mercadorias, mecanizando o
campo, investindo em monoculturas e patentes de sementes genéticamente
modificadas com o objetivo de vender um pacote tecnológico e tornar os
produtores dependentes. “No sentido agronômico é inviável a mistura de
sementes caboclas com transgênicas”, diz.
Para o representante do MST, ninguém em sã consciência quer
trabalhar para o agronegócio. “Quem quer viver jogando de veneno no
solo?”, questiona. E acusa a grande Imprensa, “há na grande Imprensa o
desejo de embutir no pensamento das pessoas que o agronegócio é a
salvação para o Brasil, mas isso porque são todos grandes grupos
econômicos”, lamenta. E criticou duramente as organizações do
agronegócio. "O Blairo Maggi tem mais de 240 mil hectares de soja, sem
nenhuma outra espécie ou praga, isso só se consegue com uso
indiscriminado de venenos agrícolas, importados dos mais variados países
do mundo. Esse tipo de negócio não se sustenta".
A ativista indiana Vandana Shiva comentou sobre como deixou de lado
sua formação como Física e começou a atuar como líder ambiental. “Houve
uma grande tragédia na Índia, em 1984, mas o mundo pouco falou sobre
isso”. A ativista citava a tragédia de Bhopal, um desastre industrial
que ocorreu em 3 de dezembro de 1983, quando 40 toneladas de gases
tóxicos vazaram na fábrica de pesticidas da empresa norte-americana
Union Carbide. É considerado o pior desastre industrial ocorrido até
hoje, quando mais de 500 mil pessoas, a sua maioria trabalhadores, foram
expostas aos gases. Houve num primeiro momento cerca de 3 mil mortes
diretas, mas estima-se que outras 10 mil ocorreram devido a doenças
relacionadas à inalação do gás.
Desde de 83, Vandana dedica-se às causas ecológicas e
agroecológica, bem como agricultura familiar e contra o uso de sementes
transgênicas. “De acordo com a a ONU, 70% dos alimentos são produzidos
pela agricultura familiar, é uma burrice expulsar as pessoas do campo
para produção de combustíveis, e mercadorias agrícolas que não servem
para alimentar a população. Querem transformar sementes em produtos,
quando tudo isso já existia, isso é biopirataria”, explica.
Homenagem a Ana Primavesi
Considerada a precursora da Agroecologia, a professora doutora Ana
Primavesi foi homenageada na abertura do III Encontro Internacional de
Agroecologia (dia 31), que se se encerrou nesse sábado (03/08) no
Ginásio do Colégio Santa Marcelina, em Botucatu-SP. O Professor da
Universidade Berkeley (EUA) e coordenador da Sociedade Científica
Latino-americana de Agroecologia, Miguel Altieri, reforçou que a
transição agroecológica já começou na América Latina e que o III EIA é a
oportunidade de continuá-la. “São pessoas e importantes organizações
reunidas para finalizar essa transição”, disse.
Paulo Peterson, da Articulação Nacional em Agroecologia (ANA)
destacou a importância que a Agroecologia está ganhando. “Está sendo
incorporada por instituições e este encontro (III EIA) é importante por
possibilitar o debate sobre esse momento de transição, em que o Governo
Federal anuncia o lançamento do Programa Nacional de Agroecologia, e que
ao mesmo tempo interrompe o programa de reforma agrária. É um momento
de avanços e contradições”.
O economista João Pedro Stédile, representante do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) cita que Botucatu é uma trincheira
em defesa dos trabalhadores rurais e agricultores familiares contra o
agronegócio. “Vamos salvar o planeta da ganância do Capital”.
O representante do Instituto Giramundo e organizador do III EIA, o
doutor em Agroecologia, Rodrigo Machado Moreira, citou o crescimento do
evento e do tema em relação às edições e anos anteriores, mas lamentou a
situação global e nacional em relação ao Ensino da Ciência
Agroecológica. “Em um momento em que o império do agronegócio expandiu
do agro alimentar para o agro combustível, com a crise sócio-ambiental,
no Brasil, mesmo com mais de 600 cursos superior de Ciências Agrárias
temos que criar cursos de Agroecologia, pois a ciência parece ser a
barreira mais lenta e incorporar os avanços”, declara. "Mas estamos em
um momento muito importante para a agroecologia e e o crescimento e
maturidade do EIA demonstram isso".
Fonte: http://www.ecoagencia.com.br/?open=noticias&id=VZlSXRFWWNlUspFSjdEeXJFbKVVVB1TP